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Cabelo crespo em alta: conheça técnicas do Box Braid, Baby Hair e Afro Puff

Flávia Martinelli

24/11/2017 08h00

Com reportagem de Cauê Yuiti, especial para o MULHERIAS

Tá na moda mas não é só modismo. Para as mulheres crespas, que por anos se renderam às chapinhas, alisamentos e procedimentos para "desmaiar" os fios, penteados afro representam liberdade. Eles podem ser chamados de exuberantes e imponentes mas, no fundo, o que representam é aceitação e orgulho crespo.

"Depois de tanta repressão estética, é a vez de mostrarmos nossa potência", diz a bailarina Yasmim Cynara, que por anos teve vergonha de seus cachos. Hoje ela usa penteados que ressaltam o volume dos cabelos, como o afro puff que prende os fios das raízes para dar ainda mais evidência dos fios crespos no alto da cabeça.

Na lista dos penteados mais usados também estão as tranças, que nos salões são chamadas de Box Braid quando mesclam fios naturais e apliques. São ótimas para quem está passando pelo processo de transição capilar, ou seja, deixando de usar produtos químicos para deixar os fios cresceram naturalmente. 

E tem mais, muito mais por aí. Em duas ou três horas de salão é possível sair com voluptuosos  Twists ou cachos leves coloridos feitos em Braid de Crochet.

Conheça as técnicas e aproveite, ainda, para sacar outra mania das ruas, o Baby Hair, um mimo que se faz a aqueles cabelinhos novinhos que crescem rente à testa. O que não falta é opção e criatividade! 

 

Trança Twist

O cabelo da Evelyn é um símbolo de sua resistência
Fotos: Cristiano da Silva e Fridas Comunica e Fotógrafa

Elas costumam vir trançadas, o que facilita muito a colocação da Twist. "Conheci a técnica em vídeos norte-americanos e adorei. O primeiro passo é fazer tranças de raiz, as nagô, bem rentes ao couro cabeludo, e depois costurá-las com a agulha de crochet", diz Evelyn Daisy, de 34 anos, modelo e trancista da Zona Sul de São Paulo. A exuberância fica pronta em duas ou três horas de salão e custa cerca de R$ 300. Dá para variar na espessura das tranças, comprimento e material. Outra vantagem:  o cabelo pode ser ser reutilizado até três vezes, o que barateia muito. A manutenção é a cada três meses.

Box Braid

Janaína troca de cabelos a cada três meses e está sempre deslumbrante

As famosas tranças rastafari ou tranças soltas agora são chamadas de Box Braid. Elas podem ser feitas com diversos tipos de materiais inclusive lã e linha de crochê, que são materiais que custam cerca de R$ 35. A maior dificuldade é o tempo que leva para trançar: cerca de 8 horas.

"Mas vale a pena, principalmente para quem está em transição capilar. São tantas horas conversando e partilhando experiências que vira quase uma terapia de recuperação de autoestima", diz a trancista profissional Janaina Denise Pereira Lima, de 36 anos, de Embu das Artes. Ela já usou Box Braid de todo tipo. "Acho lindo! E virou praticamente uma tradição de mãe pra filha. Tenho cinco trancistas na família."

Afro Puff

Yasmin: orgulho do cachos poderosos

"Cansei de ouvir que meus cachos precisavam ser domados", diz a bailarina mineira Yasmim Cynara, de 20 anos. "Passei a vida com vergonha do meu cabelo e usei chapinha até me sentir confiante o suficiente para não mais esconder e, sim, ressaltar o volume que meu cabelo tem naturalmente."

O penteado Afro Puff faz parte dessa conquista. Para fazê-lo, basta creme de pentear, secador de cabelo, um elástico ou grampos para levar os cabelos ao topo da cabeça e um pente-garfo para finalizar. O resultando é um volume de dar inveja. E um alívio para ela. "Não ter a estética que a sociedade impõe é um ato feminista que realçou minha beleza."

O Afro Puff pode ser finalizado de diversas formas: divido ao meio com e com duas amarrações, com parte da franja solta, amarrado na lateral, com um lenço etc. "Dá pra ser bem criativa, livre e inventar seu próprio estilo. O que vale mesmo é deixar o volume o seu cabelo mandar o recado de que ele é maravilhoso."

 

Braid de Crochet

 

À esquerda Priscila e à direta uma cliente dela, ambas usando o Nina

O cabelo top de linha, mais pedido nos salões que cuidam da estética afro, é o"Nina". Nome do fio sintético e cacheado, Nina está disponível em diversas cores, é leve e fácil de ser aplicado. "Com duas horinhas de trabalho surge uma diva cabeludaça", diz a trancista Priscila dos Santos Santana, 36 anos que desde os 14 usa tranças depois de ter perdido o cabelo por conta da química de alisamentos.

É uma técnica muito usada em processos de transição. O sucesso do Nina é leveza do movimento e o processo simples e bem  menos dolorido que o das tranças soltas. Custa cerca de R$ 300 e a manutenção é feita a cada três meses. Se o cabelo se for retirado com cuidado pode ser reutilizado em mais um aplicação.

Baby hair

Sabe aqueles cabelinhos novinhos que começam a crescer rente à testa? Dá para fazer deles aliados. A moda conhecida como Baby Hair nada mais é do que penteá-los com ajuda de uma escova de dentes umedecida. Com com gel fixador, eles emolduram o rosto.

A cabeleireira Camila Pereira Lacerda, de 34 anos, finaliza o Baby Hair com navalha para deixá-los bem evidentes. Se a cliente quiser maior aderência, é possível relaxar levemente os fios. Quem quer resultado ainda mais definido ainda pode aplicar lápis de sobrancelha na pele onde estão os cabelinhos. "É importante não forçar o baby, só use os cabelos que realmente crescendo na moldura capilar, a ideia é parecer realmente um cabelinho de bebê, suave e leve com desenhos bonitos colados na cabeça.

Veja o vídeo da youtuber Ana Lídia Lopes do canal Apenas Ana com tutorial:

 

 

Sobre o autor

Flávia Martinelli é jornalista. Aqui, traz histórias de mulheres das periferias e vai compartilhar reportagens de jornalistas das quebradas que, como ela, sabem que alguns jardins têm mais flores.

Sobre o blog

Esse espaço de irmandade registra as maravilhosidades, os corres e as conquistas das mulheres das quebradas de São Paulo, do Brasil e do mundo. Porque periferia não é um bloco único nem tem a ver com geografia. Pelo contrário. Cada uma têm sua identidade e há quebradas nos centros de qualquer cidade. Periferia é um sentimento, é vivência diária contra a máquina da exclusão. Guerrilha. Resistência e arte. Economia solidária e make feita no busão. É inventar moda, remodelar os moldes, compartilhar saídas e entradas. Vamos reverenciar nossas guardiãs e apresentar as novas pontas de lança. O lacre aqui não é só gíria. Lacrar é batalha de todo dia. Bem-vinda ao MULHERIAS.