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Mulherias

10 filmes para conhecer melhor as periferias

Flávia Martinelli

06/12/2017 14h20

 

A periferia no cinema muitas vezes cai no lugar-comum: mocinhos bons enfrentam bandidos maus ou oprimidos estão contra opressores a partir do olhar de quem está fora da realidade das quebradas. Para elaborar uma lista de filmes que apresentam retratos e narrativas que fogem da mesmice, o blog MULHERIAS convidou a documentarista Ana Carolina Martins, nascida no Capão Redondo, na periferia da Zona de Sul São Paulo.

Ana é diretora do projeto "Visionários da Quebrada – A transformação social que vem das margens", filme que está em processo de produção e vai registrar a história de transformadores, criando novos imaginários sobre as periferias de São Paulo. "Minha lista traz diversidade, representatividade da população negra, diretoras mulheres e temas gritantes como o racismo e a violência a partir do olhar periférico." É uma viagem ao universo das quebradas não só de São Paulo mas do interiorzão do Brasil e até de Paris. 

 

Divinas

Para ganhar dinheiro e sair do subúrbio de Paris onde moram, duas amigas fazem de tudo para seguir os passos da traficante local. Mostra o conflito global da força policial, a negligência do Estado com a população periférica, negra e imigrante. Mas o filme não é apenas uma visão unilateral de uma parcela excluída da população. Divinas mostra também o conceito distorcido quanto aos reais valores de uma sociedade cada vez mais gananciosa, que busca riquezas acima de tudo.
Direção: Houda Benyamina (2016)
Onde assistir: Netflix


Sangoma

Por meio de depoimentos de várias mulheres, o documentário reflete sobre a relação da mulher negra com a dor. O enredo mostra uma casa de cinco mulheres ancestrais que têm em comum a busca pelo processo de cura física e espiritual, a superação do racismo e o compartilhamento de uma nova vida.
Direção: Daniel Fagundes (2013)
Assista aqui:

 

Branco Sai, Preto Fica

Mais do que borrar a fronteira entre documentário e ficção, o filme a subverte, "a partir de dentro", o que há de ficção no que chamamos de realidade e o que há de realidade na mais desvairada fabulação. No centro de tudo está uma noite de 1986 que não acabou: aquela em que a polícia reprimiu com violência um baile de black music na Ceilândia, cidade-satélite de Brasília, deixando uma porção de feridos. A frase que dá título ao filme saiu da boca de um policial na invasão da festa.
Direção:  Adirley Queirós (2014)
Onde assistir: Netflix


5x Favela – Agora por Nós Mesmos 

O filme reúne 5 curta-metragens dirigidos por jovens moradores de diferentes comunidades. 'Fonte de Renda', 'Arroz com Feijão', 'Concerto para Violino', 'Deixa Voar' e 'Acende a Luz' são os episódios.
Direção: Cacá Diegues (2010)
Assista aqui:


O Estopim

O pedreiro Amarildo de Souza desapareceu na Rocinha, Zona Sul do Rio de Janeiro, no dia 14 de julho de 2013. Segundo inquérito, o homem morreu depois de passar por uma sessão de tortura. A coragem da família e de amigos de Amarildo se transformou em símbolo de resistência e luta da sociedade civil contra a violência do Estado. Misturando cenas com atores e depoimentos reais, o filme não quer só investigar o que aconteceu, mas sim debater a conduta policial nas favelas e a questão da segurança pública do país.
Diretor: Rodrigo Mac Niven (2014)
Assista aqui:


Quanto Vale ou É por Quilo?

O filme compara o antigo comércio de escravos e a exploração da miséria pelo marketing social: ambos criam uma solidariedade de fachada. A critica ao modelo de negócio das ONGs e suas captações de recursos junto ao governo e empresas privadas é um alerta para o que existe por trás da "caridade aos menos favorecidos".
Direção: Sérgio Bianchi (2005)
Assista aqui:


Quase Dois Irmãos 

Miguel é um Senador da República que visita seu amigo de infância Jorge, que se tornou um poderoso traficante de drogas do Rio de Janeiro, para lhe propor um projeto social nas favelas. Nos anos 70 eles se encontram novamente, na prisão de Ilha Grande. Ali as diferenças raciais eram mais evidentes: enquanto a maior parte dos prisioneiros brancos estava lá por motivos políticos, a maioria dos prisioneiros negros eram criminosos comuns.
Direção: Lúcia Murat (2004)
Assista aqui: 

Não Saia Hoje

"Não Saia Hoje" é um conselho que várias mães disseram aos seus filhos em maio de 2006. Infelizmente, muitos deles precisaram sair de casa e elas não puderam protegê-los da violência dos chamados Crimes de Maio, quando o confronto com a polícia militar de São Paulo e a facção criminosa PCC deixou um rastro de mais de 500 mortos na cidade. O filme constrói uma narrativa poética sobre o luto, a luta e esperança dessas mulheres que foram apartadas precocemente do convívio com seus filhos e hoje batalham para que suas histórias não se repitam.
Direção: Susanna Lira (2015)
Assista aqui: 

 

Linha de Passe 

A ficção se passa em São Paulo e mostra os problemas a serem enfrentados por quatro irmãos, filhos de uma empregada doméstica que está grávida mais uma vez. Reginaldo (Kaique de Jesus Santos) é um jovem que procura seu pai obsessivamente. Dario (Vinícius de Oliveira) sonha em se tornar jogador de futebol mas, aos 18 anos, vê a ideia cada vez mais distante. Dinho (José Geraldo Rodrigues) dedica-se à religião. Dênis (João Baldasserini) enfrenta dificuldades em se manter, sendo também pai involuntário de um menino.
Direção: Daniela Thomas e Walter Salles (2008)
Assista aqui: 

 

A falta que me faz 

Registro experimental sobre a rotina de jovens que vivem na Serra do Espinhaço, uma cordilheira de montanhas que se estende pelos estados de Minas Gerais e Bahia. Com um olhar sensível e contemplativo, o filme mostra como cinco garotas, afastadas dos grandes centros urbanos, vivem o fim de sua adolescência.
Direção: Marília Rocha (2009)
Assista aqui: 

 

Sobre o autor

Flávia Martinelli é jornalista. Aqui, traz histórias de mulheres das periferias e vai compartilhar reportagens de jornalistas das quebradas que, como ela, sabem que alguns jardins têm mais flores.

Sobre o blog

Esse espaço de irmandade registra as maravilhosidades, os corres e as conquistas das mulheres das quebradas de São Paulo, do Brasil e do mundo. Porque periferia não é um bloco único nem tem a ver com geografia. Pelo contrário. Cada uma têm sua identidade e há quebradas nos centros de qualquer cidade. Periferia é um sentimento, é vivência diária contra a máquina da exclusão. Guerrilha. Resistência e arte. Economia solidária e make feita no busão. É inventar moda, remodelar os moldes, compartilhar saídas e entradas. Vamos reverenciar nossas guardiãs e apresentar as novas pontas de lança. O lacre aqui não é só gíria. Lacrar é batalha de todo dia. Bem-vinda ao MULHERIAS.