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Conheça os blocos de Carnaval em SP com estrutura para mães com filhos

Flávia Martinelli

13/02/2020 04h00

De graça, com estrutura e segurança: conheça os blocos de SP que pensam na inclusão de mães que querem ir para a folia com as crianças, como Natália e Pedro (Foto: Acervo pessoal)

De graça, com estrutura e segurança: conheça os blocos de adultos em SP que pensam na inclusão de mães que querem ir para a folia com as crianças e contam com espaço adequado para elas, como Natália e Pedro (Foto: Acervo pessoal)

Por Martha Raquel Rodrigues, especial para o blog MULHERIAS

Uma estrutura própria com bancos à sombra, trocador de fraldas portátil, banheiro exclusivo para crianças e adaptado para necessidades especiais, além de muito samba, ocupam o galpão escolhido por um bloco de carnaval preocupado com a segurança das crianças e com o conforto e a inclusão das mães. Este é o primeiro ano que o "Santana Descendo a Ladeira" sai no carnaval paulistano. O evento será nesse próximo domingo, dia 16, das 10h às 15 horas. O nome do bloco vem das ladeiras da zona Norte de São Paulo que levam os moradores de Santana, um dos bairros mais antigos da cidade, para o metrô.

A ideia do bloco de samba de roda surgiu da necessidade de manter as tradições musicais do bairro e responder à demanda regional de mães que sentiam falta de um espaço seguro para brincar o Carnaval com seus filhos e filhas. Segundo os organizadores, muitas mães costumavam ir somente em blocos infantis ou então precisavam deixar as crianças com familiares para que pudessem curtir a folia, já que não se tratava de um ambiente pensado também para os pequenos.

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O som do "Santana Descendo a Ladeira" ficará parado na rua e compartilhará a música do caminhão com o salão do Bar do Justo, que se virou ambiente exclusivo para a diversão acontecer entre família. "São Paulo é uma cidade muito excludente e cara. Isso faz com que as pessoas fiquem dentro de casa. Então, quando os blocos ocupam a rua, eles cumprem esse papel de resgatar a cultura. É uma festa para a família inteira", conta João Victor da Motta Baptista, pesquisador de 25 anos e uma das 35 pessoas envolvidas nos trâmites para colocar o bloco no bairro.

João Victor, de óculos, do

João Victor, de camiseta florida, do "Santana Descendo a Ladeira" com a cantora Wal Serra do bloco e outros organizadores: "Que os blocos possam, pouco a pouco, ter essa consciência de que é preciso incluir todo mundo no carnaval" (Foto: Acervo pessoal)

São esperadas 3 mil pessoas no bloco que contará com recreadores, pintura facial, muita serpentina e confete na área infantil e samba de roda na área externa. Parado na rua Alferes Magalhães, a quatro quadras do metrô e do terminal Santana, o festejo é de graça e também chama a atenção para a a democratização do Carnaval na cidade.

Esperançoso, João Victor lembra que de pouco em pouco os paulistanos estão recuperando sua história foliã. "Temos mais de 800 blocos nas ruas hoje, ocupando bairros afastados, periferias, incluindo todas e todos que não têm grana pra viajar ou até pra sair da sua área. É muito importante esse movimento de ocupação das ruas nos nossos territórios, senão o Carnaval continuaria sendo inacessível para a maioria da população. Nosso desejo é que ano a ano os blocos cresçam ainda mais e se consolidem como espaços culturais e se mantenham em suas comunidades o ano todo."

Queridinhos dos brasileiros, os blocos de carnaval também são muito esperados pelos pequenos Arthur, de 6 anos, e Pedro de 7. Eles são conhecidos dos ensaios do inclusivo Bloco Siga Bem Caminhoneira, já que suas mães integram a bateria do grupo composto por mulheres lésbicas e bissexuais. Daniela Cavalcante de Araújo, 31 anos, é divorciada e conta que costuma levar Arthur aos ensaios por considerar que é um lugar acolhedor para as mães e seguro para as crianças. Mulheres que apoiam o bloco se voluntariam para cuidar das crianças.

 

Pedro, filho de Maria Natalia Menezes Garcia, pedagoga de 28 anos, já está indo para o seu sétimo ano de folia. A mãe conta que a tradição de curtir os bloquinhos em família vem desde a geração passada em sua casa. Pedro, que faz amizades por onde passa, nunca quer ir embora dos ensaios. "Eu vejo essas iniciativas de incluir as mães e crianças como algo muito importante mesmo! A maternidade é uma experiência linda e transformadora, mas também muito solitária. Também penso na importância de a criança ver que a mãe está confortável e segura, que está inserida, e o quanto isso é uma forma de moldar como ela vai encarar o mundo", pontuou a pedagoga.

No ano passado Dani e Arthur participaram do bloco Urubozinho, na Freguesia do Ó, em São Paulo. Filho do Bloco Urubó, o bloquinho nasceu em 2014 e é voltado para crianças de todas as idades. "Gosto de ir em blocos menores e não centralizados com meu filho, porque se for algo grande dá um sentimento de medo e eu prefiro não levá-lo. Dentro do meu bloco eu sinto essa áurea de proteção muito grande, mas se isso vai pra rua, pra algo muito grande, fico apreensiva".

O organizador do bloco de Santana, João Victor, por sua vez, relembra a importância de criar esses espaços de integração de mães, filhos e toda a comunidade. "As mães querem curtir com os filhos, mostrar a cultura popular, as tradições, a expressão da arte, da resistência e tudo isso criando um vínculo com o espaço urbano. É preciso que elas sintam que mães e filhos são bem-vindos, sobretudo nos espaços públicos e de confraternização. E mais, é preciso que isso seja normal. Que os blocos possam, pouco a pouco, ter essa consciência de que é preciso incluir todo mundo no carnaval".

BLOCOS DE ADULTOS MAS COM ESTRUTURA ESPECÍFICA PARA A INCLUSÃO DE CRIANÇAS EM SP

Santana Descendo a Ladeira
Onde: Rua Alferes Magalhães, 25 – Santana
Quando: 16 de fevereiro, domingo, das 10h às 15h

Ilú Obá De Min
Onde: Praça da República
Quando: 21 de fevereiro, sexta, a partir das 17h

Onde: Alameda Barão de Piracicaba
Quando: 23 de fevereiro, domingo, às 14h

Siga Bem Caminhoneira
Onde: Rua Rui Barbosa, 453 – Bela Vista
Quando: 29 de fevereiro, sábado, a partir das 14h

Onde: Casa de Cultura Chico Science – Rua Abagiba, 20, Moinho Velho
Quando: 6 de março, sexta, das 18h às 20h

BLOCOS INFANTIS EM SP

Urubózinho
Onde: Igreja da Matriz – Freguesia do Ó
Quando: 15 de fevereiro, sábado, das 9h às 11h, e 22 de fevereiro, das 9h às 11h

Mamãe Eu Quero
Onde: Praça Irmãos Karmann, próximo a Av. Sumaré
Quando: 15 de fevereiro, sábado, e 23 de fevereiro, domingo, ambos partir das 10h

Bloco das Emílias e Viscondes
Onde: Biblioteca Monteiro Lobato de literatura infantil
Quando: 21 de fevereiro, sexta, às 13h

Charanguinha do França
Onde: Rua Major Sertório – República
Quando: 29 de fevereiro, sábado, 9h

 

Sobre o autor

Flávia Martinelli é jornalista. Aqui, traz histórias de mulheres das periferias e vai compartilhar reportagens de jornalistas das quebradas que, como ela, sabem que alguns jardins têm mais flores.

Sobre o blog

Esse espaço de irmandade registra as maravilhosidades, os corres e as conquistas das mulheres das quebradas de São Paulo, do Brasil e do mundo. Porque periferia não é um bloco único nem tem a ver com geografia. Pelo contrário. Cada uma têm sua identidade e há quebradas nos centros de qualquer cidade. Periferia é um sentimento, é vivência diária contra a máquina da exclusão. Guerrilha. Resistência e arte. Economia solidária e make feita no busão. É inventar moda, remodelar os moldes, compartilhar saídas e entradas. Vamos reverenciar nossas guardiãs e apresentar as novas pontas de lança. O lacre aqui não é só gíria. Lacrar é batalha de todo dia. Bem-vinda ao MULHERIAS.