"Gota d'água": Liniker, Eliane Dias e lideranças femininas choram Marielle
Flávia Martinelli
19/03/2018 18h00
A morte de Marielle Franco mobilizou artistas, mulheres das periferias, da política, militantes do movimento negro e formadoras de opinião de diferentes áreas e especialidades. O Mulherias reuniu 16 depoimentos que representam a dor de perder uma companheira, mas também o luto transformado em luta, como Marielle nos ensinou. Clique aqui para ler a reportagem completa
(Colaborou Stéfannie Mota, especial para o Blog MULHERIAS)
"Esse assassinato é a gota d'água. Há três anos eu há havia falado disso: estão colocando o pé no nosso pescoço! A gente não vai mais aguentar ver negros morrerem a cada 23 minutos no Brasil." – Eliane Dias
ELIANE DIAS, "militante e mulher negra em primeiro lugar", advogada, coordenadora do programa antirracismo da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, o S.O.S. Racismo e empresária do grupo Racionais MC's
"Dói muito, arde o coração, a boca fica seca, mas eu não deito, Marielle não deitaria" – Liniker
Liniker, cantora e compositora
"Marielle, a sua voz não se calou. Ela ecoará sempre nos ouvidos de quem precisa ouvir os teus gritos de esperança. O céu te aguarda em festa, junto com Mandela e todos aquele que lutaram por nós" – Alcione Marrom
ALCIONE, cantora
"É das poucas vezes em que me falta a voz. Chocada. Horrorizada… Toda morte me mata um pouco. Dessa forma me mata mais." – Elza Soares
Elza Soares, cantora e "mulher do fim do mundo"
"Sua força servirá como o mais valioso ensinamento: a liberdade não tem medo. A resistência, a luta pelos nossos direitos e a vida do outro, mais do que nunca, farão parte da nossa trajetória." – Paula Lima
Paula Lima, cantora
"A gente teve a tragédia com Luana Barbosa, mulher negra e lésbica que foi espancada por policiais até a morte, tivemos tantos outros… Mas acho que esse com Marielle está tendo capacidade de mobilização nacional e mostra que estamos vivendo um Estado de Exceção." – Roberta Estrela D'Alva oficial
"Morrem negros, pessoas inocentes todos os dias, mas morte da Marielle é um divisor de águas, pois declara, escancara a nossa impotência frente a todo o racismo estrutural e institucional que nos aprisiona." – Adriana Barbosa
ADRIANA BARBOSA, fundadora da Feira Preta, uma dos 51 negros mais influentes do mundo com menos de 40 anos da lista do Mipad (Most Influencial People of African Descent)
"Ela foi silenciada para sempre e agora mais que entendo por que sou silenciada. A conjuntura política do país nos levou ao declínio, ao abismo, a meio-fio das trevas. Como sempre digo, a luta é contínua, por ela, por mim, por nós, por todas nós."
"Quiseram calar Marielle, mas até em sua morte ela consegue transformar o nosso luto em luta." – Kenarik Boujikian
KENARIK BOUJIKIAN, desembargadora do Tribunal de Justiça de São Paulo, cofundadora da Associação Juízes para a Democracia
"Para que possamos dar voz ao povo da Maré, à Luyara que ficou sem mãe, à companheira de Marielle que perdeu um grande amor. Somente juntos, indignados, secando as lágrimas uns dos outros e de mãos dadas venceremos. Hackeando o sistema." – Lisiane Lemos
LISIANE LEMOS, ciberativista , integrante da lista da Forbes Under 30, fundadora de uma ONG para ajudar a criar a ponte entre profissionais negros e empresas
"Marielles, Dandaras, Luizas, Marias estão surgindo nas periferias, nos grandes centros, nas regiões longínquas, líderes, guerreiras, que lutam por país mais justo. Marielle sua morte não foi em vão." – Elizabete Leite
ELIZABETE LEITE SCHEIBMAYR, advogada e líder do Comitê de Igualdade Racial do Grupo de Mulheres do Brasil
"Somos lançadas e lançados a diversos questionamentos em diversos âmbitos pela figura que ela inspira: 'de que maneira seguir? De qual maneira prosseguir? Como se manter saudável e vicejar num entorno tão hostil?" – Reimy Solange Chagas
REIMY SOLANGE CHAGAS, psicóloga clínica e social, professora universitária, mestre em Psiquiatria Transcultural pela Universidade Sorbonne e Doutora em Psicologia Social pela PUC-SP
"Marielle não permitia ser interrompida. Isso incomoda, tira as coisas do lugar. Ou melhor: coloca as coisas em seu devido lugar. Como diz Angela Davis, 'quando a mulher negra se movimenta, toda a estrutura da sociedade se movimenta com ela'. Foi isso que Marielle fez." – Kenia Maria
Defensora dos Direitos das Mulheres Negras na ONU Mulheres Brasil Foto: Revista Cosmopolitan
"Eu, mulher. Eu, mulher preta de origem periférica. Eu, mulher preta senti no meu corpo a dor dessa morte, senti o frio do medo de quem sabe o que é ser alvo, ser ativista e lutar pelo direito à vida, à existência e ao nosso direito de contar nossas histórias." – Maitê Freitas
"Foi um silenciamento não só dessa população que nunca foi sonhada e pensada nas políticas públicas, mas de toda a sociedade que acredita na democracia e no respeito do direito à vida." – Bruna Barros
BRUNA BARROS, cofundadora do projeto @GranaPretaVC, de investimentos baseados em diversidade
Sobre o autor
Flávia Martinelli é jornalista. Aqui, traz histórias de mulheres das periferias e vai compartilhar reportagens de jornalistas das quebradas que, como ela, sabem que alguns jardins têm mais flores.
Sobre o blog
Esse espaço de irmandade registra as maravilhosidades, os corres e as conquistas das mulheres das quebradas de São Paulo, do Brasil e do mundo. Porque periferia não é um bloco único nem tem a ver com geografia. Pelo contrário. Cada uma têm sua identidade e há quebradas nos centros de qualquer cidade. Periferia é um sentimento, é vivência diária contra a máquina da exclusão. Guerrilha. Resistência e arte. Economia solidária e make feita no busão. É inventar moda, remodelar os moldes, compartilhar saídas e entradas. Vamos reverenciar nossas guardiãs e apresentar as novas pontas de lança. O lacre aqui não é só gíria. Lacrar é batalha de todo dia. Bem-vinda ao MULHERIAS.