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Gastronomia da quebrada: 5 lugares para comer bem nas periferias de SP

Flávia Martinelli

27/09/2019 04h00

Por Monise Cardoso, especial para o blog MULHERIAS

Comer bem não é privilégio de quem mora no centro e nos bairros mais nobres de São Paulo. As periferias da cidade estão cada vez mais gastronômicas. Além de oferecer variedade e fugir das batidas redes de restaurantes, as quebradas também estão se renovando. Aquela lanchonete impessoal agora dá vez a hamburguerias artesanais, o botequim pé sujo, sem perder a identidade, hoje virou uma cachaçaria mais democrática para mulheres também se sentirem à vontade no local. A boa e velha comida caseira, por sua vez, nunca perde seu reinado.

Dá pra comer bem, pagando barato e fortalecendo a economia do território em que você mora. E, claro, quem não vive na quebrada, ainda experimenta um deslocamento social importante: sair dos bairros elitizados para ir até a periferia conhecer um restaurante novo e uma parte do sabor local. O blog MULHERIAS conhece, frequenta e recomenda cincos restaurantes que são garantia de comida boa e um ótimo passeio para toda a família!

Zona Leste
Hamb 011
Rua Olavo Egídio de Souza Aranha, 1983 – Vila Cisper

A hamburgueria fica localizada na Vila Cisper e foi criada por três irmãos moradores do bairro. A garagem da irmã mais nova do trio se transformou num espaço aconchegante e descolado para receber quem curte o estilo fast food: entra, come bem e sai com vontade de voltar. O cardápio é enxuto, como o de hamburguerias conceituadas da cidade. A ideia do menos é mais é oferecer o melhor sempre em todas as opções.

Os lanches são batizados com nomes de aeroportos do mundo todo, como o GRU (Aeroporto Internacional de São Paulo). O lanche é o clássico X-salada. Já o SYD, que leva o nome do Aeroporto de Sydney, na Austrália, é composto da combinação deliciosa de cheddar, cebola caramelizada e bacon em cubos, tudo dentro de um pão australiano. O lanche mais barato da casa sai por R$12 e o mais caro custa R$26 no combo com bebida e batata frita. Chopp, dadinho de tapioca e anéis de cebola também fazem parte do menu da Hamb 011.

Zona Norte

Paraíso da Cachaça
Av. dos Direitos Humanos, 2067 – Lauzane Paulista

Petiscos para acompanhar o drink Gengibrina na Zona Norte (Foto: divulgação)

Petiscos para acompanhar o drink Gengibrina na Zona Norte (Foto: divulgação)

O Paraíso da Cachaça tem uma decoração ao estilo motoclube. A trilha sonora é pensada para os fãs do bom e velho Rock'n' Roll, mas o som é sempre na medida certa para não atrapalhar o papo de quem ocupa as mesas espalhadas pela calçada do lugar. A especialidade da casa é a Gengibrina. Servido bem gelado, o drink é feito com cachaça artesanal e raspas de gengibre. O copo com 300ml sai por R$ 6 e pode ser acompanhado do bolinho de carne da casa, por R$ 4. O Paraíso da Cachaça ainda oferece uma longa carta de cervejas artesanais e importadas a um preço bem mais justo do que o praticado nos bares do centro. Compensa ir de carro por aplicativo! Ô, se compensa.

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Centro
Cozinha Ocupação Nove de Julho
Rua Álvaro de Carvalho, 427 – República

É no centro da cidade de São Paulo, exatamente na rua Álvaro de Carvalho, onde 122 famílias se abrigam, que funciona a cozinha da Ocupação Nove de Julho. Por lá, TODO último domingo de cada mês, um chef é convidado para comandar um banquetaço preparado pelos moradores e voluntários da ocupação. O Almoço de Domingo serve, em média, 800 pratos. Além do prato principal, o evento conta com barracas de brigadeiro, acarajé, churrasco, hambúrguer, cachorro-quente e fondue. Para os visitantes, o prato principal (mais que bem servido) sai por R$ 20.

A última edição do almoço teve costela de porco ou cebola e abobrinha grelhadas na versão vegana, chucrute com purê batata e maçã, abóbora kabochá, tomate grelhado e arroz integral. (Foto: reprodução Facebook)

A última edição do almoço teve costela de porco ou cebola e abobrinha grelhadas na versão vegana, chucrute com purê batata e maçã, abóbora kabochá, tomate grelhado e arroz integral. (Foto: Reprodução/Facebook)

Oeste
Casa da Árvore
Av. Dr. Felipe Pinel – 305 B – Ao lado do Term. Pirituba

Em Piritubacity fica a Casa da Árvore, um bar e ponto de cultura com intensa programação e comida boa (Foto: reprodução Facebook)

Em Piritubacity fica a Casa da Árvore, um bar e ponto de cultura com intensa programação e comida boa (Foto: reprodução Facebook)

Pirituba ou, para os íntimos, Piritubacity, é um distrito de proporções gigantescas que abrange vários bairros da cidade. É lá, nesse mundo de CEP's, que se encontra a Casa da Árvore, um bar e ponto de cultura superdescolado e com uma agenda de eventos que vai desde exposições e saraus à música ao vivo. O espaço é grande e conta com lounge e área externa – lugar bom pra ir com a galera. E pra comer? O cardápio é variado e tem opções diferentonas como o lanche Pollo Loco: sobrecoxa desossada marinada na marguerita com alface, agrião, cebola roxa e queijo por R$ 18. A casa conta também com opções de saladas, porções, espetinhos e um vasto cardápio de drinks.

Zona Sul
Cozinha Criativa da Tia Nice
Rua Batista Crespo, 105 – Campo Limpo

A inauguração da Cozinha Criativa da Tia Nice está marcada para o dia 12 de outubro. Mas, mesmo antes disso, quem quiser experimentar a comida da chef é só colar no local, onde também funciona a Agência de Fomento da Periferia Solano Trindade, um coworking de empreendedores da região e, ainda, um armazém de comida orgânica. A cozinha da Tia Nice é um negócio social de alimentação que une alimentação saudável a conceitos como sustentabilidade, preservação do meio ambiente e conexão com terra. O cardápio privilegia insumos de  agricultores familiares da produção orgânica da cidade de São Paulo, como Parelheiros e Grajaú, junto de parceiros do Instituto Terra Viva, de produtores do interior de São Paulo. 

Cozinha Criativa da Tia Nice: comida saudável direto dos produtores Foto: reprodução Facebook)

Cozinha Criativa da Tia Nice: comida saudável com orgânicos direto dos produtores (Foto: Léo Britto – DiCampana Foto Coletivo/reprodução Facebook)

A chef Tia Nice traz consigo a experiência de 40 anos como profissional de cozinha e está sempre em busca novidades. Já provocou filas por conta do peixe ensopado do bar que manteve por sete anos no litoral de São Paulo. Suas feijoadas – a tradicional ou a vegana com abóbora cabotiá, coco, amêndoas defumadas, cenoura, beterraba e vagem – que acompanham os eventos na Agência Solano Trindade já viraram uma atração em si. Mas a Tia não se aquieta, não. Depois do curso gastronomia, virou especialista em massas e vegetais e agora vai compartilhar o que sabe em oficinas na Cozinha Criativa. Encantada pelas pancs, as chamadas plantas alimentícias não convencionais, seu cardápio inclui o charutinho de folha de capuchinha recheado com ora pro nobis e pastel com recheio de coração de banana também. De comer de joelhos!

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Sobre o autor

Flávia Martinelli é jornalista. Aqui, traz histórias de mulheres das periferias e vai compartilhar reportagens de jornalistas das quebradas que, como ela, sabem que alguns jardins têm mais flores.

Sobre o blog

Esse espaço de irmandade registra as maravilhosidades, os corres e as conquistas das mulheres das quebradas de São Paulo, do Brasil e do mundo. Porque periferia não é um bloco único nem tem a ver com geografia. Pelo contrário. Cada uma têm sua identidade e há quebradas nos centros de qualquer cidade. Periferia é um sentimento, é vivência diária contra a máquina da exclusão. Guerrilha. Resistência e arte. Economia solidária e make feita no busão. É inventar moda, remodelar os moldes, compartilhar saídas e entradas. Vamos reverenciar nossas guardiãs e apresentar as novas pontas de lança. O lacre aqui não é só gíria. Lacrar é batalha de todo dia. Bem-vinda ao MULHERIAS.